As noites de novembro seriam bem mais frias se não fosse a harmónica de Sebastião, com o seu som delicadamente áspero a vaguear pelas ruas desertas onde os poetas procuram abrigo, algures entre os blues e o fado de Lisboa. Nunca ninguém vira Sebastião sem a sua harmónica azul. Completavam-se, estendiam-se: separados não existiam, juntos tornavam-se num gigante mitológico que viajava no limbo entre os sonhos e a realidade.
Como Sebastião se tornava especialmente imprescindível nas noites sem lua! Com o seu blusão negro, sentado no passeio, encostado a uma parede suja, repleta de graffitis e de vários cartazes rasgados a anúnciar a mesma peça de teatro,fora de cena havia três anos. De olhos fechados, a guiar com os seus dedos finos e brancos a harmónica azul, que brilhava metalicamente sob a luz falaciosa do único candeeiro da rua.
Muita gente que deambulava pelas artérias e arteríolas da cidade descobrira Sebastião e a sua harmónica quando já se notava o burburinho do dia. Uns vinham de bares, atraídos pelo contraste de ritmos e volumes, outros regressavam do leito dos amantes e muitas vezes esses traziam uma capacidade inusual de se sentir agradados com as coisas à sua volta. Uns poucos apareciam a pedir conforto após uma noite de insónias, e esses ouviam o som da harmónica mas observavam-se a si próprios, num acto de introspecção.
Os espaços de escuridão desabitados em volta de Sebastião iam sendo preenchidos por rostos mais ou menos conhecidos. Cada um tinha a sua razão muito própria para ali estar, e era assim que Sebastião os diferia. De vez em quando deixava uma nota ficar suspensa no ar até se desfazer, como uma bola de sabão soprada por uma criança, e depois abria bem os olhos e observava os rostos que o rodeavam, tentando descobrir o que os motivava a estar ali.
Seria sempre um mistério. Todas aquelas pessoas lhe eram estranhas, e no entanto havia algo imperceptível que os unia. Era difícil compreender o que seria, mas todos eles tinham algo em comum. O que será, o que será, pensava Sebastião, com o bocal da harmónica ainda quente, ainda colado aos seus lábios, perscrutando faces. Quem vê caras, não vê corações. Quem vê olhos talvez veja, ou quem ouve música. Não, os corações não se vêem, sentem-se. Ouvem-se, quanto muito, quando encostamos a cabeça a um peito e adormecemos.
Seria a música que os unia, perguntou-se Sebastião numa certa sexta-feira de outubro, quando a chuva caía de mansinho, como um segredo murmurado ao ouvido. Nessa noite (não tarde, talvez passasse um pouco das duas da manhã) aparecera um jovem rapaz caboverdiano. O silêncio dos seus passos era tão impossível que Sebastião quase nem conseguia continuar a tocar. Sem fazer cerimónia ele sentou-se, de pernas cruzadas e puxou para si uma tábua de madeira que estava encostada ao contentor do lixo e começou a acompanhar a música de Sebastião com o batuque. Seria a música que os unia? Sebastião olhou o rapaz olhos nos olhos e ele correspondeu. Fitaram-se longamente enquanto a música prosseguia, acompanhada pela som pálido da chuva. Mas não era a música o que os ligava era algo de muito mais profundo e ininteligível – a música era um meio de expressão, não a mensagem.
Os raios de sol do primeiro domingo de novembro começavam a definir-se por entre as silhuetas paralelipipedícas dos edifícios. Sebastião guardou a harmónica no bolso do blusão e despareceu nos ruídos de uma cidade que se levanta. Enquanto o via partir, Lia desejava secretamente que também os dias fossem menos frios.
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segunda-feira, outubro 08, 2007
sexta-feira, junho 15, 2007
1
A estação de metro está apinhada de gente. Quando o mundo está tão cheio de pessoas, não damos por mais uma, menos uma, há um equilíbrio dinâmico que não nos diz nada. Perto do olhar, longe do coração. Cada um de nós tem o seu mundo dentro do mundo. O meu mundo é daltónico, manco e maneta, mas é o meu mundo. Há mais luas, há mais eclipses neste mundo do que em outros mundos, mas é este o meu mundo.
O mundo de Lia gira incontrolavelmente. O mundo de Lia é incostante, dilata-se e estreita-se. O chão do mundo de Lia escapasse-lhe sob os pés e ela quase cai, mas apoia-se numa parede. Lia cerra os dentes, fecha os punhos. Dói-lhe a cabeça.
Doem-lhe todas as vozes em uníssono. As do passado, as do presente, aquelas que ela inventou em sonhos. A mãe com as suas palavras enroladas como cigarrilhas, os seus francesismos. Chardonnay, um copo de champanhe que cai e toca o chão e se estilhaça. O som de um coração apertado contra o peito. Gritos, passos, um soalho de madeira que range. Vendedores que apregoam laranjas. Adolescentes que se riem muito alto. O retumbante silêncio dos viajantes solitários. Um crescendo de violinos. Todas as vozes, agora, sob a matuta de um maestro de fraque negro, vamos lá, as contraltos, os barítonos, as sopranos, os tenores, todos, um clamor que se eleva entre o burburinho do fim de tarde.
No confuso mundo de Lia todos os outros mundos colapsam. O próprio tecto ameaça desabar. As pessoas esvaiem-se no ar como pó. Já não há muito que se mantenha em pé e intacto. Ela quer pedir ajuda mas não se lembra de como se pronuncia a palavra. Esqueceu-se da linguagem. Como se, quando ditas, as palavras não fizessem sentido.
O maestro no mundo de Lia tem um súbito arrebato de gestos, a mão que segura a batuta cresce, cresce, aponta os violinistas ocultos. Só pode querer dizer que antigimos o clímax do espectáculo. O rosnar da multidão parece quase um Aleluia, só que mais triste e obscuro. Os olhos de Lia, cinzentos como mares em dias de tempestade, desabam em lágrimas que inundam as faces. Como um pião de madeira, o mundo de Lia deixa gradualmente de rodar. Com um movimento redondo da mão esquerda o maestro cala vozes e orquestra. Agora o mundo de Lia é só ela. Só ela, a escuridão e um cenário apocalíptico.
O mundo de Lia gira incontrolavelmente. O mundo de Lia é incostante, dilata-se e estreita-se. O chão do mundo de Lia escapasse-lhe sob os pés e ela quase cai, mas apoia-se numa parede. Lia cerra os dentes, fecha os punhos. Dói-lhe a cabeça.
Doem-lhe todas as vozes em uníssono. As do passado, as do presente, aquelas que ela inventou em sonhos. A mãe com as suas palavras enroladas como cigarrilhas, os seus francesismos. Chardonnay, um copo de champanhe que cai e toca o chão e se estilhaça. O som de um coração apertado contra o peito. Gritos, passos, um soalho de madeira que range. Vendedores que apregoam laranjas. Adolescentes que se riem muito alto. O retumbante silêncio dos viajantes solitários. Um crescendo de violinos. Todas as vozes, agora, sob a matuta de um maestro de fraque negro, vamos lá, as contraltos, os barítonos, as sopranos, os tenores, todos, um clamor que se eleva entre o burburinho do fim de tarde.
No confuso mundo de Lia todos os outros mundos colapsam. O próprio tecto ameaça desabar. As pessoas esvaiem-se no ar como pó. Já não há muito que se mantenha em pé e intacto. Ela quer pedir ajuda mas não se lembra de como se pronuncia a palavra. Esqueceu-se da linguagem. Como se, quando ditas, as palavras não fizessem sentido.
O maestro no mundo de Lia tem um súbito arrebato de gestos, a mão que segura a batuta cresce, cresce, aponta os violinistas ocultos. Só pode querer dizer que antigimos o clímax do espectáculo. O rosnar da multidão parece quase um Aleluia, só que mais triste e obscuro. Os olhos de Lia, cinzentos como mares em dias de tempestade, desabam em lágrimas que inundam as faces. Como um pião de madeira, o mundo de Lia deixa gradualmente de rodar. Com um movimento redondo da mão esquerda o maestro cala vozes e orquestra. Agora o mundo de Lia é só ela. Só ela, a escuridão e um cenário apocalíptico.
2
A Terra exerce a sua força sobre o corpo de Gabriel, e a fadiga obriga-o a ceder. A intermitência das pálpebras inibe as certezas e torna vaga e difusa a vida para além do seu corpo. Como é bela a ignorância. Bela e escura, sulcada por trilhos de luz inintelígiveis. A sensação de que não existe mais nada; fechamos os olhos e tudo desaparece. A ignorância é onde nos escudamos dos problemas. Porque só temos obstáculos se os virmos lá, se soubermos que eles estão lá. Senão tropeçamos e levantamo-nos, como se não fosse nada. Nem damos por isso.
Vai contra a natureza humana. Porque, quando nascemos, nada temos de humano. Nascemos nas trevas claras do saco amniótico. Aprendemos a andar, a falar, a desiludirmo-nos, a trautear músicas no chuveiro, a usar de cadeiras para súbir a prateleiras mais altas, a gastar dinheiro em slot machines. Aprendemos tanto, erramos tanto. Às vezes só apetece fechar os olhos. Voltar ao momento inicial.
Fora de nós as coisas acontecem como nós saberíamos que elas acontecem se não optássemos pela ignorância. O chão devora os degraus da escada rolante. Os segundos passam. Os minutos também. Algumas pessoas discutem um escandâlo político qualquer. Alguém passa a correr, resmungando
Chega para lá!
Seremos certamente obrigados a abrir os olhos, mais tarde ou mais cedo. E se esse momento chegar, então que seja como da primeira vez. Que seja tudo novo, mesmo o que é velho, mesmo aquela escultura na estação de metro, sempre igual, sempre pedra, sempre abstracta.
Quando Gabriel abre os olhos o mundo já mudou. Já não é uma miscelânea de acontecimentos, de objectos, de pessoas que se cruzam a certa hora num certo local. Não. Agora o mundo é um caleidoscópio a preto-e-branco que roda à volta de uma mulher que procura equilibrar-se enquanto caminha sobre os fragmentos de vidro que reflectem múltiplas tonalidades de cinzento.
É então que Gabriel começa a ouvir os violinos. Cada vez mais alto. E os violoncelistas, os contrabaixistas, os violistas, é uma orquestra de cordas inteiras, mais um coro que canta versos incompreensíveis. Gabriel aprende instantaneamente o que fazer. Todos os seus movimentos são óbvios, como se não tivesse outra escolha, como se fosse aquele o único caminho. Abraça Lia, e o corpo dela parece-lhe tão natural. Os mundos acalmam-se e por estes que se reconciliam com a paz, haverá outros dois que entrem em cataclismo.
Cada pessoa é um microclima. A cada passo, passamos por pessoas diluviosas e por outras repletas de sol. E o vento sopra nuvens para lá e para cá. Às vezes nevamos. Outras vezes estamos fartos de meteorologia e apetece-nos fechar os olhos e entrar no comboio que nos leva a casa.
Vai contra a natureza humana. Porque, quando nascemos, nada temos de humano. Nascemos nas trevas claras do saco amniótico. Aprendemos a andar, a falar, a desiludirmo-nos, a trautear músicas no chuveiro, a usar de cadeiras para súbir a prateleiras mais altas, a gastar dinheiro em slot machines. Aprendemos tanto, erramos tanto. Às vezes só apetece fechar os olhos. Voltar ao momento inicial.
Fora de nós as coisas acontecem como nós saberíamos que elas acontecem se não optássemos pela ignorância. O chão devora os degraus da escada rolante. Os segundos passam. Os minutos também. Algumas pessoas discutem um escandâlo político qualquer. Alguém passa a correr, resmungando
Chega para lá!
Seremos certamente obrigados a abrir os olhos, mais tarde ou mais cedo. E se esse momento chegar, então que seja como da primeira vez. Que seja tudo novo, mesmo o que é velho, mesmo aquela escultura na estação de metro, sempre igual, sempre pedra, sempre abstracta.
Quando Gabriel abre os olhos o mundo já mudou. Já não é uma miscelânea de acontecimentos, de objectos, de pessoas que se cruzam a certa hora num certo local. Não. Agora o mundo é um caleidoscópio a preto-e-branco que roda à volta de uma mulher que procura equilibrar-se enquanto caminha sobre os fragmentos de vidro que reflectem múltiplas tonalidades de cinzento.
É então que Gabriel começa a ouvir os violinos. Cada vez mais alto. E os violoncelistas, os contrabaixistas, os violistas, é uma orquestra de cordas inteiras, mais um coro que canta versos incompreensíveis. Gabriel aprende instantaneamente o que fazer. Todos os seus movimentos são óbvios, como se não tivesse outra escolha, como se fosse aquele o único caminho. Abraça Lia, e o corpo dela parece-lhe tão natural. Os mundos acalmam-se e por estes que se reconciliam com a paz, haverá outros dois que entrem em cataclismo.
Cada pessoa é um microclima. A cada passo, passamos por pessoas diluviosas e por outras repletas de sol. E o vento sopra nuvens para lá e para cá. Às vezes nevamos. Outras vezes estamos fartos de meteorologia e apetece-nos fechar os olhos e entrar no comboio que nos leva a casa.
terça-feira, maio 01, 2007
amanhã
A angústia do amanhã que não vem,
que surge à janela de comboios antiquados
com o rosto de outro alguém;
A espera de dias atrasados
que se esgotam em
metáforas dúbias e sonhos alados;
A cada dia que passa é mais
inútil a esperança vã
na chegada do amanhã.
(E até o silêncio das borboletas púrpura
me faz pensar.)
que surge à janela de comboios antiquados
com o rosto de outro alguém;
A espera de dias atrasados
que se esgotam em
metáforas dúbias e sonhos alados;
A cada dia que passa é mais
inútil a esperança vã
na chegada do amanhã.
(E até o silêncio das borboletas púrpura
me faz pensar.)
terça-feira, abril 03, 2007
talvez as almas sejam grandes blocos de pedra
Talvez as almas sejam grandes blocos de pedra.
(Talvez. Podemos dizer o que quisermos, quando começamos as frases com talvez.. Porque nunca se sabe – talvez seja realmente assim, talvez as almas sejam realmente como grandes blocos de pedra.)
No príncipio são toscas e primitivas. Mas as suas próprias vidas as desgastam, as desbastam, as esculpem. E a solidão é o que fica depois do gelo penetrar bem fundo nas fissuras graníticas da nossa alma, derreter em água e esvair-se no ar. O problema é a sucessão dos invernos desacompanhados ao longo dos anos. É assim que as nossas almas, que são rochas, colapsam e se fragmentam em areia – da mesma areia quente de que são feitos os desertos.
Também há invernos em agosto. Num agosto banal o sol é demasiado redondo, demasiado obeso, quase maior que o céu. Enche os becos mais obscuros com os reflexos da sua luz, e aquece os corpos no limite do suportável: os braços tombam, frouxos, ladeando o tronco, as pálpebras fingem um perpétuo adormecimento, a cabeça parece latejar, o crânio torna-se maciço, difícil de sustentar sobre o pescoço, também ele fatigado. É um calor que inibe os pensamentos e dá um significado novo às acções, mais longe do mundo real, mais perto dos sonhos. Os invernos em agosto não têm temperaturas menos mórbidas. Falta-lhes, isso sim, a luz, consoladora e omnipresente, o súor, que torna etéreos os actos praticados, e a refrescante brisa nocturna que dá vontade de viver.
No mês de agosto os invernos são mais inesperados. À partida espera-se tempos de sol em agosto. O céu fica quase branco por causa da luz. É então que as nuvens se materializam nesse céu azul pálido. Aparecem do nada e são ainda mais brancas do que o próprio céu, e bem mais palpáveis. Surgem em toda a atmosfera e tornam-se cada vez mais esponjosas. Mas em agosto não podem ser nuvens. São elefantes. São elefantes brancos que aparecem em todo o lado. Depois crescem. Tornam-se grandes, densos, pesados, cinzentos. Tão grandes e densos, tão pesados e cinzentos, que escondem o sol atrás de si, e espalham a sua sombra por toda a cidade. Com o tempo desfazem-se em água que cai, mas são tão monstruosamente grandes que chovem durante semanas a fio. E às vezes não são água líquida, mas pedras de granizo. Assim são os invernos em agosto: com o mesmo calor mas húmidos e lúgubres, sem luz, e com dias que são iguais às noites.
Quando em agosto há invernos, as almas constimpam-se ou, ainda pior, arranjam pneumonias. A velocidade destes invernos deixa irreversivelmente lascadas as superfícies rochosas das almas. As arestas tornam-se aguçados e cortantes, e precisam de vários outonos para se amaciarem.
(Talvez. Podemos dizer o que quisermos, quando começamos as frases com talvez.. Porque nunca se sabe – talvez seja realmente assim, talvez as almas sejam realmente como grandes blocos de pedra.)
No príncipio são toscas e primitivas. Mas as suas próprias vidas as desgastam, as desbastam, as esculpem. E a solidão é o que fica depois do gelo penetrar bem fundo nas fissuras graníticas da nossa alma, derreter em água e esvair-se no ar. O problema é a sucessão dos invernos desacompanhados ao longo dos anos. É assim que as nossas almas, que são rochas, colapsam e se fragmentam em areia – da mesma areia quente de que são feitos os desertos.
Também há invernos em agosto. Num agosto banal o sol é demasiado redondo, demasiado obeso, quase maior que o céu. Enche os becos mais obscuros com os reflexos da sua luz, e aquece os corpos no limite do suportável: os braços tombam, frouxos, ladeando o tronco, as pálpebras fingem um perpétuo adormecimento, a cabeça parece latejar, o crânio torna-se maciço, difícil de sustentar sobre o pescoço, também ele fatigado. É um calor que inibe os pensamentos e dá um significado novo às acções, mais longe do mundo real, mais perto dos sonhos. Os invernos em agosto não têm temperaturas menos mórbidas. Falta-lhes, isso sim, a luz, consoladora e omnipresente, o súor, que torna etéreos os actos praticados, e a refrescante brisa nocturna que dá vontade de viver.
No mês de agosto os invernos são mais inesperados. À partida espera-se tempos de sol em agosto. O céu fica quase branco por causa da luz. É então que as nuvens se materializam nesse céu azul pálido. Aparecem do nada e são ainda mais brancas do que o próprio céu, e bem mais palpáveis. Surgem em toda a atmosfera e tornam-se cada vez mais esponjosas. Mas em agosto não podem ser nuvens. São elefantes. São elefantes brancos que aparecem em todo o lado. Depois crescem. Tornam-se grandes, densos, pesados, cinzentos. Tão grandes e densos, tão pesados e cinzentos, que escondem o sol atrás de si, e espalham a sua sombra por toda a cidade. Com o tempo desfazem-se em água que cai, mas são tão monstruosamente grandes que chovem durante semanas a fio. E às vezes não são água líquida, mas pedras de granizo. Assim são os invernos em agosto: com o mesmo calor mas húmidos e lúgubres, sem luz, e com dias que são iguais às noites.
Quando em agosto há invernos, as almas constimpam-se ou, ainda pior, arranjam pneumonias. A velocidade destes invernos deixa irreversivelmente lascadas as superfícies rochosas das almas. As arestas tornam-se aguçados e cortantes, e precisam de vários outonos para se amaciarem.
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
domingo, janeiro 14, 2007
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